Não Me Cortes O Cabelo Que o Meu Pai Me Penteou
Registo da Intervenção Land Art.
Nas diferentes relações do
homem com o espaço circundante, foi previamente proposto um percurso físico e mental
entre o Moinho do Cuco e o Moinho do Bocal. Como uma porção de espaço possível
de percorrer simbolicamente, imprimimos a nossa marca em três pontos
estratégicos: pelo simbolismo que têm nas relações de evasão/invasão (o sujeito
que observa e é observado pela natureza), de divisão (o território demarcado e
dividido pelo sujeito, onde os marcos de sinalização e os próprios montes
definem lugares de fronteira e separação sociais, culturais e políticas), e de
habitação no mundo, (através dos vestígios de arquiteturas e marcas da vivência
humana na paisagem).
10 Matacães, 28 Carvoeira
Instalação| Técnica mista sobre
papel recortado
O título remete-nos para um ponto de localização
específico: o marco que delimita uma das fronteiras entre duas freguesias do
concelho, Matacães e Carvoeira. Este serviu-nos de base para uma reflexão sobre
a noção de território, apoiada na noção de rizoma apresentada por Gilles Deleuze
e Felix Guattari, na obra “Mil Planaltos, Capitalismo e Esquizofrenia.
Sem título
Técnica mista sobre
tela e fita Espanta-Pássaros.
O que é uma paisagem? Uma realidade objetiva, vista como objeto real,
material, pré-existente ao homem? Uma experiência física que implica uma
maneira de ser, de estar ou de habitar o mundo? Ou será uma representação
mental ou cultural, influenciada pelos contextos sociais ou políticos?
Luisa Bonigio1 apela a que escutamos o lugar com a sua identidade e fisionomias singulares.
Outros autores, convocam a atenção para as paisagens sonoras, olfactivas,
gustativas, tácteis dos sentidos, para lá da hierarquia do visível. Tal como
diz Pedro Sargento2,
“não é preciso ter uma sensibilidade ultradesenvolvida para se conseguir ver
para lá do que o simples olhar nos proporciona, mas sim exercer uma curiosidade, procurar informação e ter vontade de ver verdadeiramente.”
1Sargento, Pedro, «Geofilosofia, Biocentrismo e Empatia» in revista Babilónia nº8/9, 2010, pp. 187 – 195;
2Ibid., p.191
Sem Título
Instalação | Fita Espanta-Pássaros
A escolha do material residiu numa fita “Espanta Pássaros” que é usada
pelos agricultores para afastá-los das produções agrícolas, remetendo-nos
simbolicamente para todo a origem do problema descrito no conto. Os pássaros
comeram os figos que a filha estava a guardar, razão pela qual foi castigada.
Fazendo a ponte entre a relação abordada no Moinho do Bocal e o edifício
dos Paços do Concelho de Torres Vedras, reforçamos a ideia de janela enquanto
elemento arquitetónico que nos remete para as noções de evasão/invasão,
interior/exterior.
Ricardo Martins (artista convidado)
Vídeo-Instalação